domingo, 12 de junho de 2011

A Dança da Vida Traduzia o Amor

A única certeza que tive e que continuo tendo perante a caminhada cíclica chamada vida, é que além de a chave permanecer eternamente com ele, o sentimento existente em mim sempre foi o que de mais puro eu já experimentei.

Foi com esta convicção que consegui superar todas as situações e algumas angústias que em determinados momentos me visitaram. Carregando a boa saudade é que continuei, lutando por mim e pelos sonhos que um dia sonhamos juntos... Nunca mais nos vimos e nem tão pouco falamos, eu apenas o sentia muito perto de vez em quando e em minhas horas diárias de sono nos encontrávamos e conversávamos longamente, desta forma nunca precisei perguntar a nenhum de nossos amigos em comum, para saber como ele estava, pois eu sempre soube mesmo a distância. Por muitas e muitas vezes senti e compartilhei suas dores e angústias, mesmo que ele não tivesse ideia que isso acontecesse, mas eu sempre estive ali para lhe enxugar as lágrimas e lhe dar um afago em seu travesseiro, nas sextas-feiras, sábados; finais de domingo e todos os dias que lhe pareciam monótonos em seu leito solitário, ou mesmo aqueles dias em que esteve junto de tanta gente, com tanta festa e diversão, porém em nenhum momento sentiu-se acompanhado. Era como se minha alma acompanhasse Dimitri por onde fosse, e confesso que lidar com esse tipo de situação não é lá o tipo de coisa mais agradável a um ser humano, mas aos poucos me acostumei e de uma forma ou de outra minhas energias boas sempre foram bem direcionadas quando ele precisava.
Em minhas percepções, estudos e pensamentos, escutava algo marcante e que a mim soava com tanta expressividade e certeza: tudo tem dia, hora e lugar, e tudo que é puro, como a energia vital, nunca morre, fazendo que os caminhos se cruzem como a única verdade humana!
Uma teoria sim, porém com muito fundamento reflexivo, por qual me perdi em muitas horas enquanto o tempo e a vida aconteciam fora de meu portão.
Entendi que minha relação com Dimi, era algo muito além da matéria... Não eram nossos corpos, eram nossas almas que se amavam e isto explicava tamanha sintonia mesmo com tanto silêncio e distância. A nossa história era muito mais antiga do que um dia imaginamos, saber disso, me acalmava um pouco e me fazia crer no tempo.
Em meu jardim eu cultivava um vaso de flor, que há muito tempo não florescia e em um dia comum, quando acordei percebi algo diferente naquele vaso que há tanto tempo estava impotente, era um novo ramo de flores brancas, perfumadíssimas que irradiavam minha casa, senti algo diferente como uma felicidade inesperada, calma magnifica... Era como se os anjos estivessem em lindas sinfonias aos meus ouvidos... Feliz, tomei um bom banho naquela manhã, me vesti bonita e confortavelmente e no decorrer de meu dia, aquela sensação gostosa só aumentava.
Meu telefone tocou no final da tarde daquele dia inexplicável , era um número restrito, quando atendi e disse alô, ninguém respondeu, ficou mudo, escutando eu falar, meu coração começou a disparar e passei várias horas com aquilo na cabeça... Ao chegar em casa a noite e depois de ter arrumado tudo já ia me deitar e agradecer pelo final de mais um dia, mas resolvi abrir meu e-mail, que quase sempre é lotado de propaganda e nada que se aproveite, porém naquele dia havia algo diferente na caixa de entrada, perdida entre tantas inutilidades estava uma mensagem de um remetente desconhecido que dizia: - Me perdoe pela falta de coragem, gostaria apenas de dizer que foi bom escutar sua voz... Não vou mentir isso está se tornando cansativo, às vezes penso em você e em como você está! Espero que bem! ASS: ”Seu Fã”.
Como um bom ser humano – desconfiado e imperfeito – que sou a primeira pergunta que fiz foi “será?”... Já fazia quase três anos que esperava receber uma mensagem desta, seria milagre demais, o que eu pensava ser impossível; acontecer agora? Resolvi não dar importância e minha dúvida racional não me deixava crer que pudesse ser ele... Pedi aos céus um sinal e em meus sonhos estava Dimitri, contando que sentia saudades de nossos papos, risadas e contemplações, me abraçava tão forte e meu sorriso era mais radiante que o sol que brilhava ao fundo daquele cenário de paz surreal que reinava em minhas projeções... Ao despertar novamente me questionei e entendi que nada mais era que um sonho, mas desejei do fundo de minha alma que tudo aquilo fosse real.
Os dias foram passando, e mesmo sem acontecer nada a sensação que senti naquele sonho continuava! Parecia que minha vida tinha adquirido a leveza e o perfume da plantinha que ficou tanto tempo sem florir e que agora estava radiante! Ao tomar consciência disso, tive certeza da autoria da mensagem de remetente desconhecido – Dimitri. Meus olhos lacrimejaram e a emoção que de mim tomou conta foi imensurável, senti meu coração brilhar cintilante juntamente com a presença fortíssima dele perto de mim... Seu toque novamente e seu suspirar em meu peito... Já não restava dúvida; a hora chegou!
A principio eu não sabia como agir, mas com a mesma certeza que tive de que este dia chegaria , eu tinha agora para aceitar que seria guiada para o melhor caminho. Inesperadamente no dia seguinte, encontrei Dimitri na rua, ficamos assustados ao nos ver, mas mesmo assim nos abraçamos ainda que na defensiva não demonstrando o que sentíamos, mas eu sabia de tudo e certamente ele também. A situação era compreensível, nesta época Dimitri namorava e eu também tinha alguém especial em minha vida, mas eu sentia que aquilo tudo que estava acontecendo era o início de uma reaproximação linda.
Estes encontros repentinos começaram a ser frequentes e começamos a trocar e-mails, conversando sobre as coisas amenas da vida rindo de tudo, e comigo ele compartilhava de algumas situações particulares com as quais eu me identificava por também viver coisas semelhantes.
Havia começado uma temporada de concertos em um grande teatro no centro da cidade e em certo dia, eu o convidei para assistir a uma orquestra maravilhosa, pois sabia que Dimi apreciava muito a boa música, resolvi convidá-lo como uma boa companhia de bons amigos que havíamos nos tornado nos últimos tempos. Para minha surpresa maior, Dimitri aceitou e no dia combinado lá estávamos nós. Tudo estava lindo, o repertório, a companhia, iluminação, o som... Só um detalhe incomodava – o silêncio de Dimitri.
Saímos do teatro e fomos caminhando pelas ruas vazias do centro da cidade, fazia um pouco de frio naquela noite... Na realidade eu não sabia ao certo para onde estávamos indo, apenas andávamos em silêncio. Vai ver iriamos a algum barzinho sentar um pouco ou comer algo. Mas Dimitri estava muito quieto e eu não conseguia captar seus motivos visto que a pouco estávamos em um momento de sintonia e êxtase depois da orquestra. Fiquei calada também e comecei a curtir o clima...
Em meus pensamentos rodeavam cenas como as de nosso primeiro encontro há três anos atrás... A timidez, a vontade reprimida dos dois, as dores do passado expostas um ao outro, regadas de nostalgia e contemplações... Naquele momento tudo parecia se repetir ainda que em outro contexto, mas com as mesmas intenções... Diante de todas estas recordações que em minha mente passavam como filme, quebrei o gelo e iniciamos um diálogo:
Eu: - E aí Dimi? Curtiu o espetáculo?

Ele – Claro que sim, muito obrigado por me convidar, eu adorei!

Eu: Que bom... Fico feliz!

Novamente o silêncio pairou no ar, porém alguns minutos depois foi Dimitri quem indagou:
- Cecilia, você tem raiva de mim?

- Claro que não! E porque eu teria?

- Ah! Não sei... É que aconteceram tantas coisas com a gente no passado... Eu achei que...

- Para cara... Pode parar! Eu já superei tudo, não penso mais nas coisas ruins só nas coisas boas, porque é isso que realmente vale a pena!

De repente Dimitri parou de andar e ficou me observando caminhar a sua frente... Parei olhei para trás e disse:
- Vamos?
Ele disse que não e pediu-me um abraço. Eu o abracei. Então, ele me deu um beijo desses rápidos e instantâneos, tipo “selinho” como se diz... Assustei-me!
- Dimitri, você me beijou?

- É... Eu fiz isso!
Ficamos nos olhando por alguns instantes e quando ele se aproximou novamente para beijar-me, eu o interrompi questionando se ele tinha certeza de que era aquilo que queria realmente... Surpreendi-me com a resposta:
- Sim... E sei que esta é a sua vontade também! Tenho esperado muito por isso, não perca mais nenhum segundo Cecília... Me beije como se fosse a última coisa que foste fazer na vida! Me beije!

O que explicaria a pureza deste momento? Poderia ser o disparar de nossos corações que ali se encontravam novamente durante aquele beijo... Senti uma lágrima rolar no rosto de Dimi, consequentemente no meu também aconteceu a mesma coisa! Abraçávamos-nos muito forte e em seguida ele olhou para mim e disse:
- Incrível como depois de tudo o que aconteceu e de todo este tempo, nossa sintonia continua afiadíssima!
Respondi:
- Nem nunca vai acabar...

- Por quê?

- Somos almas gêmeas, idênticas, o que você sente, acredite, eu também sou capaz de sentir!

Dimitri sorriu e seus olhos brilhavam muito... Começou a cair uma garoa fina maravilhosa, como a que caia em nosso primeiro encontro... Passamos a caminhar de mãos dadas, novamente sem saber o que iria acontecer depois, na verdade eu não queria mesmo saber e penso que ele também não, afinal, nos últimos tempos estávamos tão cansados com tudo, que aquele, um dos momentos mais lindos de nossa história, não deveria ser estragado com preocupações do que dali por diante aconteceria... Andávamos sem destino certo, cantando nossas músicas prediletas, dando gargalhadas, absolutamente felizes com a sensação de liberdade que os sentimentos puros nos causam... Queria que o tempo parasse ali!
Eu não tenho muito a entender nem a pensar sobre o que tudo isso significava ou o que dali aconteceria, visto que Dimitri e eu tínhamos pessoas especiais em nossas vidas e tantas coisas haviam mudado durante todo este tempo de afastamento, mas o que realmente importava ainda estava intacto: Nossa sintonia que era muito pura! Não conversamos sobre isso e acreditei que ainda era cedo para tal! Entretanto tive mais certeza do que na verdade sempre soube; o olhar dele nunca conseguiu me enganar e durante aquele beijo quando nossos olhares novamente estiveram juntos, meu corpo e toda a minha essência gritaram:
- É ele... Sim é ele!

E Dimitri repetia, no embalo de nossa alegria:
- Linda... Linda... Você é a mulher mais linda que já conheci!

E os anjos no céu finalizavam nossa composição tocando os mesmos sininhos que escutamos em nosso primeiro beijo.
- Sim, você está vivo! Nós dois estamos, e o que precisamos saber é que nada tem fim!

Dançávamos ali em meio ao nada na rua, a alegria de viver e amar independente do tempo, escutando a música de nossas mentes e sonhos, tocadas pelos arcanjos e anjos que continuavam no céu assistindo e festejando a pureza de nosso momento.
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Continuará...
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